Sou pai de um filho que não é meu.
Sou pai de brincadeira. Sou pai na foto não tirada. Sou pai nas aparências. Sou pai nas lembranças. Sou o pai em meus sonhos.
Sou o pai que não ouvirá choros, que não trocará fraldas, que não levará ao pediatra e que não comprará a primeira bicicleta.
Sou o pai sem herdeiro. Sou o pai sem 13 de agosto. Sou o pai sem massagem nas costas. Sou pai do filho de outro pai.
Sou na verdade um ex pai, porque ex é alguém que teve as suas chances e ou não aproveitou, ou não foi aproveitado.
Sou ex por que ex é quem chegou perto, mas não agarrou. Chegou próximo, mas não ficou. Chegou ao lado, mas não a frente.
Sou ex por que ex é quem um dia teve tudo e agora não tem nada. Ex é a história que acabou antes de começar.
Aquele que verá a oportunidade perdida nascer. Aquele que viverá com a memória do paterno fracasso.
Ex pai é como ex namoro, a gente nunca esquece. Pensamos como as coisas seriam se tudo jamais tivesse acabado.
Resta mesmo sempre pensar como seria se aquela criança fosse minha filha.
Resta sempre pensar se não seria melhor perdoar ao invés de brigar.
Resta sempre pensar se não seria melhor ter deixado por você a ter tirado pelo outro.