20 de abril de 2017

Lágrimas do Absurdo

    Estive sozinho andando na rua noite passada. Caíram ao meu redor algumas pessoas, gritaram por socorro e eu não me mexia a favor. Embora eu não tivesse destino, parado fiquei diante a necessidade de ajudar. Não entendi o motivo da não reação, mas sei que acordo todas as manhãs certo que tenho educação. Certo de que tenho etiqueta e certo de que tenho postura. Acordo todas as manhãs convicto da minha humanidade e de que um dia serei ainda melhor. Acordo convicto de que a única coisa que me falta é poder para mudar ou fazer o que gostaria. Só que depois de falhar sobre minhas certezas, que é o que acontece na maioria das vezes, percebo que não sou o único a ter a indigência como problema e caiu na dúvida se realmente faria algo pelos outros. Percebo que isso não é exclusividade dos meus pensamentos, que não sou sozinho nessa miséria, que não tenho privilégios de se frustrar além dos demais. São inúmeras situações. Vejo gente desesperada se sujeitando a pedir dinheiro emprestado sem saber quando poderá devolver. Vejo gente sendo obrigada a sentar-se debaixo do sol, segurar uma placa de venda por 8 horas e receber como pagamento cem vezes menos que os donos do empreendimento. Vejo pais sendo informados de que a filha foi roubada sem ter a menor condição de repor o patrimônio e reaver o prejuízo psicológico causado a quem tanto prezam. O gari, que fazendo triatlo entre correr, levantar peso e respirar o cheiro intenso do chorume ter seu uniforme como fantasia de carnaval. Ir à feira de domingo, no momento do final, em que os preços caem, justamente porque as frutas que restaram não são da melhor qualidade, porém, ainda possível de se comer. Não ter como pagar a condução de procurar por emprego, imprimir um currículo, fazer um lanche nesse percurso e dormir mal pela dor de cabeça do cansaço. Envergonhar-se pela falta de uma bala, uma bala, que poderia adoçar o beijo que saiu sem hálito. Então, diminuir o estresse correndo no parque, uma vez não conseguindo se matricular na academia, mas sem poder dizer adeus com sofisticação, já que o medo da necessidade extingue qualquer soberba e o orgulho morre bem antes que a dignidade. A pobreza é uma doença que todos lutam para encontrar a cura; uns com violência, outros com conhecimento, até os preguiçosos se esforçam com a imaginação. Para ser alguém é preciso ter dinheiro. Está ai a grande dificuldade. É errôneo pensar que dinheiro não compra felicidade. O dinheiro é a felicidade que não subtraí as tristezas. Compra a saudade, compra a ausência. Compra o alívio das dores. Mata sem você sofrer. Compra as humilhações da família. Compra a lealdade do casamento. Compra o sigilo da sua insatisfação. Compra a atenção sincera dos amigos. O mundo também tem um preço e a tristeza sempre vai existir misturada entre as alegrias, independente do quanto você tiver para gastar.