Na academia ela inventava a beleza do relacionamento: irem de bicicleta para adiantarem as pernas. Não era isso o fruto do desentendimento. Eu não poderia saber, falavam mais baixo que o coração. Não era o estilo deles levantar suspeitas. Quem me disse foram os desenhos da perna, para trocar com os braços. Nele um tribal sério, nela um céu desorganizado por pássaros. Se eu pudesse ao menos interrompê-los para dizer que ninguém é de ninguém. Se eu pudesse avisar que toda a alegria é a alegria de viver. Se eu pudesse, antes mesmo que um deles almejasse sair sem dizer tchau. O amor cuspiu em mim a verdade que a vida inteira procurei. Como doía meus olhos ver a dor de suas mãos. Trêmulas, já não tinha mais vontade de se unir. O peso era sobrenatural que seu corpo pudesse sustentar. Por isso ele parou como uma estátua em frente ao puxador. Agora detalhista, nunca tinha reparado que um lado da corda era menor. Nunca tinha reparado que o terceiro peso da máquina estava trincado. Sem palavras, sem reação, ela se foi. Sem ao menos dar tchau, abandonou a dieta. Abandonou a malhação. Quem há de negar que ambos queriam o melhor para si? Vai saber se não era ele quem mais exigia. Vai saber se não era ela quem mais se despreocupava. Sobre o amor, só posso adivinhar: fazem histórias e criam esperanças, comigo tudo é divertido como um jogo. O amor é assim, só estabelece interesse. Que seja bonita, que seja dedicado, que seja atenciosa, que seja carinhoso. O amor é assim, parece com a sorte. Mesmo que tudo esteja bem, mesmo que os veja hoje disputando a esteira, é sempre perigoso.
-mas só estamos brincando.
-toda brincadeira é um jogo.